Marvel Max

Mundo HQ

Super-heróis pra gente grande

Cena um: o super-herói beija a mocinha e leva-a para o quarto. No quadrinho seguinte, a porta se fecha e o leitor que imagine o que quiser. Cena dois: a super-heroína tem toda sua roupa rasgada em combate ou decide tomar um banho. Todo o seu corpo é mostrado, a exceção de seios e genitália, strategicamente cobertos por espuminhas de sabão ou por trechos do tecido que inexplicavelmente resistem justamente ali. Nada mais natural, afinal, quadrinhos de super-herói são para crianças, certo? Bem, nem todos. Na revista Marvel Max, publicada no Brasil pela Panini Comix, não há portas fechadas, espuminhas ou tecido resistente demais. A idéia é mostrar tudo. Ou quase.

Lançada no Brasil no final do ano passado, a revista surpreendeu até mesmo os editores. Apesar de ser o país do Carnaval, período no qual Valéria Valença desfila nua pela TV durante a programação matutina e vespertina sem maiores problemas, havia os que temiam que o público brasileiro fosse rechaçar a idéia de ver heróis da editora Marvel mostrando (e fazendo) mais do que suas peripécias tradicionais. Temor que se provou desnecessário. Apesar de não revelar números por questões estratégicas, o pessoal da Panini garante que as vendas – indicadas para maiores de 18 anos – vão muito bem.

"Infelizmente essa é uma informação privilegiada da Panini. No entanto, posso adiantar que Marvel Max foi uma grata surpresa para todos nós, e que a revista vai indo muito bem", diz Hélcio Carvalho, editor da revista. O público consumidor, segundo ele, é composto em sua maioria por homens maiores de 20 anos. "A revista é consumida em sua maioria por leitores convencionais de super-heróis e cobre uma outra faixa, mais adulta, que havia abandonado os quadrinhos de super-heróis por falta de tramas mais adultas e inovadoras. Não temos nenhuma pesquisa que mostre onde a Marvel Max concentra o maior número de leitores, mas São Paulo e Rio são as principais praças de venda de quadrinhos", revela.

É bom notar que as imagens mais reveladoras não são pornográficas. As cenas fortes de conotação sexual são plenamente plausíveis e dentro do contexto. Apesar disso, em alguns estados puritanos estadunidenses houve protestos e até gráficas recusando-se a rodar a revista. No Brasil, os temas adultos não suscitaram sequer uma carta de protesto. "Pelo contrário. A revista tem sido muito elogiada justamente por isso", ressalta Carvalho.

Algumas das cenas mostrada em Max não são tão reveladoras, mas têm conteúdo mais forte, como por exemplo, na primeira e segunda revistas, uma história da espiã Viúva Negra envolvendo sadomasoquismo. Por sinal, a Viúva é uma indicação que a ousadia da Marvel é bem calculada: apenas personagens secundários dão o ar da graça na linha Marvel, ao menos diretamente.

Capitão América, por exemplo, até fez uma participação especial em uma HQ de Alias (pouquíssimo a ver com a da TV a cabo, apesar do nome), mas sem nada que o envolvesse mais diretamente na "temática adulta".

Assim, além da Viúva e Alias, já passaram pelas páginas "quentes" da linh Max o herói mercenário Luke Cage (com um visual novo, a la bairro do Harlem, em Nova York); o lutador de artes marciais Shang Shi ealguns personagens pouco conhecidos no Brasil, como os da linha Poder Supremo – uma vrsão Marvel hardcore para ícones da DC, como o Super-Homem (que nesse caso é um garoto do espaço com os mesmos poderes, mas criado pelo exército americano…)

A premissa da linha Max é ser mais adulta não só no tocante às referências sexuais como também em termos de violência. A pancadaria na revista não é maior do que nas revistinhas tradicionais da Marvel – comercializadas normalmente para menores – como Justiceiro e Wolverine, por exemplo. É apenas mais coerente, mais real.

Assim, heróis como Luke Cage realmente se machucam quando levam pancadas e machucam (bem) os outros, mas sem arrancar partes vitais com a mão ou coisas apelativas do gênero, comuns a outras tantas linhas da própria Marvel e da DC.

Enfim, Marvel Max parece ser realmente uma leitura para gente grande, pos nela há uma certa dose de realidade explicita, mas sem a apelação que costuma acompanhar os produtos que se associam a este rótulo. Em tempo: para os próximos números, max planeja publicar a série Born (que mostra os anos do Justiceiro no Vietnã) e The Hood, com o Arqueiro Verde.

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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