HQ Club evita cancelamento de gibis

Mundo HQ

Um clube em prol dos quadrinhos

Todo ano a história se repete: as editoras de quadrinhos lançam vários títulos e aqueles que não se tornam imediatamente (e imensamente) populares – conseqüente-mente, não vendem muito – são cancelados algum tempo depois, deixando alguns milhares de leitores na mão. Graças a uma iniciativa das lojas de quadrinhos, no entanto, a história está mudando. As chamadas Comic Shops acabam de anunciar a criação do HQ Club, que nem bem foi fundado e já conseguiu barrar o cancelamento de um dos títulos cult mais procurados pelos leitores: Preacher. "Há títulos que não têm a venda esperada em banca, porém conquistam um público cativo. O que fizemos no caso de Preacher – e pretendemos fazer com outras revistas – foi garantir para a editora (Brainstore) uma venda mínima que compensasse a manutenção do título apenas para as lojas de quadrinhos", explica Ricardo Quintana, sócio-proprietário da Pandora Comic Shop, único estabelecimento do gênero em Campinas.
Na prática, cada loja de quadrinhos está comprando um mínimo de 100 exemplares da revista, garantindo uma venda de pelo menos dois mil exemplares para a editora Brainstore. O número possibilita que a Brainstore consiga manter o título sem nenhum ônus e evita o cancelamento. Para os Comic Shops, a vantagem é que o público cativo das revistas terá de comprá-las nas lojas, já que elas não irão mais para as bancas nem serão republicadas. "O negócio é bom para todos. O leitor não perde sua revista favorita, a editora não deixa de ganhar nem se indispõe com o leitor e as lojas passam a oferecer um produto exclusivo", conta Quintana, acrescentando que o clube já está em negociação com outras editoras e mais dez títulos já estão programados para serem fornecidos neste sistema.
A própria Brainstore deverá publicar mais algumas revistas pelo sistema do clube. Apesar de nem a editora nem a associação divulgarem os títulos por enquanto, na prática o que deve ocorrer é que as lançamentos mais populares continuarão a ir para a banca, enquanto os mais "cult" chegarão apenas nas Comic Shops. Se esta lógica se confirmar nas próximas revistas da editora, pode se supor, por exemplo, que Lobo vs. Batman irá para todas as bancas, enquanto o esperado Brigada dos Encapotados (que traz histórias com roteiro mais complexo, envolvendo misticismo, mitos e outras cositas mas) provavelmente ficará à disposição apenas nas Comic Shops.
Os títulos exclusivos não serão as únicas vantagens oferecidas pelo HQ Club. As lojas de quadrinhos participantes também passarão a receber com antecedência de 15 dias as novidades das editoras com que o clube trabalha, independentemente delas também irem ou não para as bancas. Além disso, no caso das minisséries em duas partes vendidas em banca, as lojas receberão a obra completa (partes 1 e 2) com antecedência. Por fim, para os clientes assíduos, as lojas costumam oferecer ainda "assinaturas de balcão" (reservas mensais de revistas) com descontos.

Força

A idéia do HQ Club surgiu em uma conversa entre os donos da Pandora e da Comix, de São Paulo (apontada como a maior loja deste tipo no Brasil) e já reuniu outros 14 estabelecimentos de 10 Estados – no Interior de São Paulo, além da Pandora, há apenas mais uma "sócia" do clube: a "História, Discos e Livros", de Rio Claro.
"Os Comic Shops são razoavelmente novos no Brasil, o primeiro surgiu há uns 15 anos e só neste final de século eles se firmaram mais no mercado. Por isso uma única loja tem um poder de negociação bem limitado, mas várias delas unidas conseguem muito mais", destaca Quintana.
No Brasil existem 25 mil bancas de jornais e revistas e apenas pouco mais de 30 Comic Shops e bancas especializadas. Por este motivo um Comic Shop, isoladamente, vende muito mais gibis do que uma banca, só que na soma geral as bancas vencem. Já nos Estados Unidos os estabelecimentos que comercializam exclusivamente quadrinhos e congêneres são muito comuns e vendem mais, o que faz com que somente os títulos de maior apelo comercial das maiores editoras (como Batman e X-Men, por exemplo) sejam vendidos nas bancas de lá. Para achar qualquer outro gibi, só em uma loja especializada. "Mas aqui no Brasil esse afunilamento não deve acontecer e nem é isso que o HQ Club pretende", diz Quintana. "Nossa intenção é apenas oferecer o ‘algo mais’ que a banca não tem como dar."

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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