Hipocampo: coisa de Maluco
Scott McLoud, um dos mais conceituados especialistas em HQs do planeta, afirma que a grande característica dos quadrinhos é combinar de modo harmonioso a imagem e o texto. Pois, se tivermos só destaque demais para imagem, o resultado será um excelente trabalho de artes plásticas e, se só houver texto, melhor escrever um livro. Se isso for verdade, Hipocampo: terceira ocorrência, álbum recém-lançado pela Opera Graphica, tem lugar garantido na prateleira dos apreciadores de artes plásticas, afinal, os desenhos do autor Antonio Amaral são, para dizer o mínimo, soberbos.
A utilização tanto de cores quanto de branco e preto em um traço impossível de se definir entre o dadaísta nervoso, o surrealista belo e experimentalismo total é de deixar qualquer um que aprecie a pintura de queixo caído. Varias das páginas da Graphic Novel lançada pela Opera (21x28cm, 80 páginas, R$ 20,00) são dignas de serem emolduradas e colocadas na parede.
Agora, se o que o leitor quer é uma boa história ou um argumento convincente… esqueça. A impressão que quem se der ao trabalho de ler balões e recordatórios vai ter é a de ter entrado no meio de uma viagem de ácido de um cientista maluco. O quadrinhista edgar Franco, mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma em seu prefácio que "ptrova do impacto da obra de Amaral é o estranhamento que eka ainda causa em muitos pesquisadores e amantes da HQ".
Se Franco estiver se referindo ao argumento das histórias – se é que se pode chamar de argumento – a palavra estranhamento é branda demais. Afinal, o que dizer de diálogos como o reproduzido a seguir?
"- O que você está achando, Besouro Bege?
– Um pouco à esquerda, pela tangencial. À revelia da Salamandra.
– O vagalume não está gostando nada desta história.
– São as notas do pentagrama atonal, que passam por perto e ele fareja. Deixa pra lá."
Todos os diálogos e narrativas da HQ seguem mais ou menos nesta linha, ou coisa pior. Talvez haja, claro, quem entenda e veja vários sentidos maravilhosos ocultos na HQ. Para a maioria dos não-iniciados, porém, Hipocampo se resume a um lindo livro de figuras. E só.
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