Hagar, o viking

No início dos anos 70, o cartunista Dik Browne reuniu a família e anunciou que estava indo para o porão de sua casa, de onde não sairia até criar um bom personagem para uma tira de quadrinhos. Em 5 de fevereiro de 1973, o viking Hagar, o Horrível, estreava nos jornais americanos.

A idéia de Hagar surgiu das lendas nórdicas que o cartunista ouvia de sua tia sueca e, para criar o personagem e toda a família viking, Browne inspirou-se em si mesmo, na mulher, nos filhos, no médico, no advogado e por aí afora.

O rosto e corpo de Hagar são inspirados no próprio Dik Browne e até mesmo o nome do simpático viking surgiu de um apelido do autor, dado por seu filho caçula. “Meus três filhos me acordavam e eu costumava fingir que estava furioso e saía correndo atrás deles. O mais novo sempre fugia aterrorizado, gritando: corram, corram, aí vem Hagar, o terrível”, contava o autor.

Dik Browne faleceu em 1989, mas a tira foi continuada por seu filho Chris, que conseguiu manter praticamente o mesmo estilo e, principalmente, o bom humor do pai. Hagar, atualmente, é publicado em cerca de dois mil jornais nos EUA e outras centenas fora daquele país. Há algumas coletâneas lançadas no Brasil pela LP&M Editora. Via Internet, é possível acompanhar as tiras no site da distribuidora King Features (www.kingfeatures.com).

Enredo

Gordo, nariz-de-batata e barba extremamente vermelha, Hagar é, na definição de seu autor, um pai de família que tenta ganhar a vida e que por acaso é viking.

“Ele é um executivo do ramo de saque e pilhagem”, troçava Dik Browne. As histórias de Hagar misturam o cotidiano dos lendários guerreiros nórdicos com o dia-a-dia de uma família classe média moderna.

Hagar é amante da cerveja, pouco higiênico, adorador de guerras e praticamente invencível em um duelo (só perde para a mulher, Helga). As confusões, bom humor e estilo das HQs podem ser observadas desde a primeira tira, onde Hagar aparecia, tendo atrás de si uma horda de guerreiros, ouvindo atentamente o morador do castelo prestes a ser invadido explicar que “Não, esse aqui não é o número 35… ESSE castelo fica lá embaixo.”

Personagens

Além de Hagar, completam a tira:

Helga – Dona de casa e mãe dedicada, é uma viking de origem nobre – vem de Oslo, capital da Noruega – e foi inspirada na mulher de Dik Browne, Joan. Inteligente, sensível e sensata, às vezes sofre com o companheiro, mas sempre tem a palavra final.

Hamlet e Hérnia – Hamlet, o filho de Hagar, é sensível, estudioso e sonha em ser dentista. Resumindo: o pior pesadelo de um pai viking. Hérnia, sua namorada (por escolha dela mesmo) é o contrário do garoto: espevitada, turrona, violenta, o sonho de um pai viking…para um menino.

Honi e Lute – Honi é a filha mais velha de Hagar. Ela surgiu na tira já com 16 anos e lamentava o tempo todo não ter um marido “nesta idade avançada”. Independente demais para uma garota viking, Honi constantemente briga com o pai por não poder fazer “coisas de homem”. Dispensou vários pretendentes até que surgiu Lute, um menestrel errante e folgado, meio “bicho-grilo”, com quem Honi vive um daqueles noivados eternos.

Eddie Sortudo – Braço direito de Hagar, Eddie é o azarado da tira. Além de Ter um QI reduzido, é vítima constante de todo tipo possível – e impossível – de infortúnio. Eddie foi inspirado em um amigo nova-iorquino de Dik Browne.

Snert – Inspirado em um cão que Dik teve quando criança, Snert é o companheiro fiel de Hagar e, assim como o dono, é pouco inteligente e muito boêmio. Em inglês, seu latido faz parte do humor da tira, pois, em evidencia sua origem nórdica: em vez de woof (com som de “u”), ele late “voof”

Kvack – Mais uma vez o sotaque nórdico em evidencia – em vez de “quack”, “kvack”. Esta pata é a fiel companheira de Helga. É limpa, asseada e nobre e vive “delatando” Hagar para sua dona.

Dr. Zook – Baseado no médico da família Browne, Richard Zucker. É o curandeiro local e o personagem usado para toda a sátira à medicina.

Koyer – Baseado no advogado da família Browne, Theodore Coyer. É o causídico de Hagar e um especialista em ética viking e jurisprudência do saque e da pilhagem. Advogados com palavreado difícil sempre . Quando defendem bárbaros, então…

Curiosidade: feministas mudam o viking

Dik Browne e os vikings não conheciam (ou ignoravam) tanto os movimentos feministas quanto os malefícios da bebida.  No entanto, Chris Browne, o filho do cartunista que assumiu a tira em 1989, conhecia ambos muito bem. Por isso, Hagar passou por uma suavização nas mãos do novo autor. Ele reduziu as aventuras etílicas de Hagar e trocou as mulheres que o viking sempre carregava nas costas após saques e invasões por mobiliário, pizzas gigantes ou um chef francês, reduzindo o apetite sexual de Hagar – e suas prováveis traições à mulher – por simples apetite.

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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