Enciclopédia (?) Marvel…
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A capa (e a segunda capa, passe o mouse para alterar) da Enciclopédia Marvel: arte caprichada, mas será que basta?
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Bonitinha, mas nada extraordinária. Assim pode ser definida a Enciclopédia Marvel, obra de luxo lançada pela editora Panini com a pretensão de ser um catálogo de heróis, super-heróis e alguns personagens secundários. Com capa dura, papel bem cuidado, muitos desenhos coloridos e um amplo número de verbetes, a Enciclopédia foi alardeada em praticamente todos os gibis de heróis da Panini como uma publicação indispensável para os fãs dos quadrinhos Marvel. Infelizmente, porém, o produto não se revelou à altura de sua propaganda e da expectativa gerada por ela.
Não que a tal enciclopédia seja ruim. Longe disso, os apaixonados por Homem-Aranha, X-Men e companhia terão na estante um belo compêndio, ricamente ilustrado, que talvez compense os R$ 24,90 cobrados pela editora. No entanto, a enciclopédia peca em vários aspectos, entre os quais o principal provavelmente é a falta de informação a respeito dos criadores dos personagens. O livro é dividido em sete grupos – Vingadores; Quarteto Fantástico; Marvel Knights/Max; Homem-Aranha; X-Men; Marvel Millenium; e o medíocre Emergência a Serviço da Vida (pasme !) – nos quais são catalogados os personagens.
Na página inicial de cada retratado são informados nome, nome original em inglês, data e revista da primeira aparição e informações "pessoais" do personagem (de altura e cor dos olhos a poderes e armas). No entanto, falta o dado essencial: quem criou o herói ou vilão? Com isso, a Panini/Marvel perde de uma única vez duas oportunidades: dar crédito a seus roteiristas e desenhistas e informar com retidão um dado histórico que o leitor espera encontrar. Ou enciclopédias não são para isso? Assim, se tudo o que o leitor sabe ao comprar o livro é que Stan Lee criou o Homem-Aranha, isso é tudo que ele continuará a saber após ler a Enciclopédia, pois sequer esta informação consta da publicação.
O estranho é que este "complexo de Walt Disney" (o criador de Mickey nunca deixou os artistas de seus estúdios, como genial Carl Barks, criador do Tio Patinhas, virem a público) não é típica da Marvel, que até costuma fazer alarde em torno de quem desenhou determinada HQ ou roteirizou uma outra. De qualquer forma, perde o leitor que esperava encontrar ali tais informações. Outro pecado está na arte da publicação.
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Fera, retratado somente em seu visual oncinha…
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Não que os desenhos sejam feios. Pelo contrário, boa parte deles toma páginas inteiras e são verdadeiras obras de arte. O problema é que em geral eles retratam o personagem atual, com todas as mudanças de aparência e uniforme que passaram, e deixam de lado a arte original (exceção feita a algumas capas de primeiros números reproduzidas). Ou seja, mais uma vez, adeus precisão histórica.
Não custaria nada, por exemplo, colocar em um cantinho da página o visual original do Fera, dos X-Men. Em vez disso, o leitor ganha de presente (de grego) duas grandes artes com o visual gatinho super-desenvolvido que os desenhistas mais recentes deram ao mutante. Já Wolverine aparece sem uniforme ou usando a primeira versão deste, com cara de gato (em um quadro pequeno que reproduz a na capa do gibi Incrível Hulk em que o herói foi lançado).
O uniforme tradicional com a máscara preta exagerada nos olhos, que o personagem usou durante anos e que o marcou na memória dos fãs é simplesmente ignorado. Vale ressaltar que não se trata aqui de ser purista, mas sim de cumprir o objetivo de uma enciclopédia: informar corretamente, com texto e imagem. Outro ponto complicado é a sugestão de leituras essenciais de cada personagem.
A idéia é ótima, mas os títulos sugeridos parecem se prender mais a lançamentos recentes feitos pela própria Panini, deixando de fora títulos anteriores fantásticos que foram publicados por outras editoras, como a Abril Jovem. Por exemplo, falar de Demolidor e não recomendar como leitura essencial o fantástico "A Queda de Murdock" é como falar de Monteiro Lobato e deixar de fora o Sítio do Picapau Amarelo… E o que dizer de não citar – entre diversos outros- o excelente Fusão na bibliografia obrigatória de Wolverine?
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…e Wolverine, no melhor (?) estilo Wando: ninguém merece.
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Por sinal, o mutante Alex Summers, o Destrutor, que divide esta HQ com o baixinho canadense, é meramente citado na ficha de seu irmão, Ciclope. Sim, a Marvel tem tantos personagens que é impossível citar todos, mas deixar de lado um super-herói significativo para dar espaço a outros insossos como o desconhecido Ultron e ainda duas páginas para o horripilante Emergência a Serviço da Vida é o fim. Por sinal, nunca é demais lembrar, este título "patriótico" lançado nos Estados Unidos para valorizar bombeiros, policiais e paramédicos depois do atentado de 11 de setembro foi um fracasso retumbante aqui no Brasil e (graças a Deus) acabou cancelado após uns poucos números.
De bom, portanto, a enciclopédia tem belos desenhos, algumas informações interessantes – ainda que incompletas – e ainda umas fichinhas estilo cardgame (com dados como inteligência, técnica de luta e força dos heróis), que os mais ligados neste tipo de jogo podem até usar para brincar de "quem ganharia uma luta entre fulano e ciclano".
No mais, apesar de toda a beleza da arte, seu maior problema é que ela parece ter sido feita com a preocupação de entreter e não de informar. Talvez fosse o caso de deixar de lado o termo "enciclopédia"…
Enciclopédia Marvel – Editora Panini, R$ 24,90, colorido, papel especial, 240 páginas.
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