Chiclete com Banana

Mundo HQ

A volta dos que não foram

Desde que tornaram-se conhecidos do grande público, nos anos de 1980, Angeli, Laerte e Glauco viraram referência nas histórias em quadrinhos brasileiras. Com um humor descrito adequadamente como corrosivo, cínico e anarquista, o trio de cartunistas revolucionou as HQs e até hoje é exemplo de genialidade, seja nas tiras publicadas por dezenas de jornais Brasil afora, seja em coletâneas eventuais lançadas de tempos em tempos.

Quem não sabe como “Los três amigos” alcançaram seu status, porém, agora pode descobrir: as editoras Sampa e Devir acabam de lançar, em parceria, uma antologia da revista Chiclete com Banana, publicação que revelou os cartunistas.

Lançada pelo publisher Toninho Mendes, Chiclete teve 44 edições – entre normais e especiais – e durou dez anos, nos quais mais de 3 milhões de exemplares foram vendidos. Trazia HQs e muito mais: entre outras coisas, misturava quadrinhos, textos de humor e fotonovelas hilárias estreladas pelo próprio Angeli (em crise) e a então desconhecida atriz Cristiane Tricerri.

A linha da revista foi definida por Angeli em editorial logo no primeiro número, em outubro de 1985: “Queremos beliscar a bunda do ser humano pra ver se a besta acorda”. Com efeito, beliscaram. Nas páginas de Chiclete com Banana surgiram – ou se consolidaram – personagens inesquecíveis como Bob Cuspe, Mara Tara, Doy Jorge, Rhalah Ricota e Meia-Oito.

Também ali ganharam espaço histórias com belos roteiros e desenhos, como “Penas”, de Laerte (reproduzida no primeiro número da antologia). Tudo, claro, no melhor estilo sexo, drogas e rock´n´roll.

Ao lado de revistas como Circo (também editada por Mendes) e Animal (feio, forte e formal), Chiclete revolucionou o mercado de HQs brasileiras tirando o foco das historinhas de super-herói, infantis e aventura ao oferecer uma alternativa inteligente (e muitas vezes transgressora) para um público que até então não encontrava nada satisfatório nas bancas.

Os fãs da revista – que iam de adolescentes e jovens órfãos de humor inteligente a intelectuais das mais diversas ideologias – também podiam encontrar nas páginas da publicação colaborações de Cacá Rosset, Guto Lacaz, Luiz Gustavo, Marcatti e tantos outros.

Fazer uma antologia, alega a editora, é de certa forma eternizar para a história a revolução provocada pela Chiclete. E, como hoje encontrar exemplares dos anos de 1980 é raridade, também serve para matar a saudade de quem leu e para apresentar um humor então reacionário às novas gerações. Ao todo, serão 16 exemplares (a R$ 5,90 cada) condensando o que foi publicado de melhor nos 44 originais.

Mas por que lançar uma antologia justo agora, ainda mais considerando que as próprias editoras já republicaram algumas HQs dos três amigos na série Sobras Completas e na recente coletânea Seis mãos bobas? Responde o próprio Toninho Mendes, coordenador da antologia, no melhor estilo Chiclete com Banana: “Num momento em que esses anos voltam numa onda nostálgica que cultua cigarrinhos de chocolate, bonecos Falcon e bandas de rock pífias, esta antologia serve como contraponto”. Touché.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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