Digibrazuca
O quadrinista Daniel HDR, do Rio Grande do Sul, desenha quadrinhos do Digimon para os americanos
Se você gosta de Digimon ou tem um filho viciado nos monstrinhos japoneses que disputam a audiência com os (já antigos…) Pokémon, com certeza já deve ter decorado, por baixo, o nome de pelo menos uma dúzia das criaturinhas. Mas mesmo que você saiba decor o nome dos mais de 500 Digimon, dificilmente terá ouvido falar em Daniel HDR. Pois é bom anotar esse nome: Daniel é o brasileiro que desenha as HQs de Digimon para os gibis dos Estados Unidos (e em breve também para o Brasil, se a revista for mesmo lançada por aqui).
Natural de Porto Alegre (RS), Daniel – que se auto-retratou ao lado dos Digimons na ilustração acima – tem 26 anos, é formado em Publicidade e Propaganda e desde os 14 anos trabalha profissionalmente com quadrinhos e publicidade. Ele já desenhou aventuras de Red Sonja, a bárbara com quem Conan sonha, e da personagem Glory, da editora Image. A fama, no entanto, ganhou impulso com os Digimons, que faz para a editora Dark Horse, e agora o cartunista gaúcho virou o rei da criançada em sua cidade natal. Afinal, não há quem não queira conhecer o "pai brasileiro" dos monstrinhos japoneses.
Em entrevista exclusiva ao HQs, Games e Outros Bichos, Daniel HDR conta como é ser um Digimon. Ou melhor, como é desehar os Digimons.
HGOB – Como foi que você começou na carreira?
Daniel "Digimon" HDR – Meus primeiros trabalhos com quadrinhos foram em pequenas editoras brasileiras, com HQs de terror e eróticas. Fiz muita coisa para fanzines e revistas alternativas européias… Em 95, eu comecei a trabalhar com o mercado norte-americano de HQs. Fiz revistas como RED SONJA – SCAVENGER HUNT, XSE (Marvel), Lady Supreme e Glory (Image Comics), entre outras.
Como foi que você foi chamado pela Darkhorse para desenhar as HQs?
Eu já tinha trabalhos publicados nos EUA e, além deles, estava tendo de portfolio uma série minha que venho produzindo chamada Soul Manager. Eles viram meu meu traço de mangá (pois os trabalhos que havia feito anteriormente para o s EUA não eram no estilo mangá) e houve interesse em ver meus desenhos em cima dos personagens da série DIGIMON. Meus trabalhos foram aprovados pela Darkhorse e pela detentora dos direitos do personagem, a Toei. Desde então, tem sido muito bom, pois o medo que a Toei tinha inicialmente em ver o design da série nas mãos de um estranho (ainda mais estrangeiro – os japoneses são muito "ressabiados" com isso) foi embora, pois o estilo dos personagens encaixou-se como uma luva em meu traço bem estilizado.
Você também dá palpite nos roteiros? Como funciona o processo de criação da história?
Os roteiros são adaptações oficiais do desenho animado. Eu praticamente recebo o roteiro dos capítulos do anime (nome dado ao desenho animado japonês). Eu intervenho bastante é no modo como as cenas são mostradas. Tirando uma diagramação bem contida (a pedido deles), eu escolho os ângulos… o que dá resultados bem interessantes. Pode-se explorar mais o impacto das cenas, ficando até mais atrativas que no próprio desenho.
Você gosta dos Digi? Tem algum favorito entre eles?
Gosto muito de desenhar o Tae, o Izzy e a Mimi. Dos Digimons, o Kabuterimon e o Greymon tem sido legais. Recentemente eu terminei o capitulo 13, onde Patamon "digivolve" pela primeira vez em Angemon (ao lado). O visual humanóide, além das asas de anjo no personagem (Angemon), resultou em cenas bem legais, que me fizeram gostar também de desenhá-lo. Com as próximas Digievoluções dos personagens, vejo que vou me divertir muito.
Seus filhos, sobrinhos ou outras crianças que têm contato contigo sabem o que você faz? Dão palpite nas HQs?
Eu não tenho filhos ainda, mas meus primos pequenos e alunos vivem pedindo desenhos… Neste final de semana mesmo, em reunião da família, eu fui "escravizado" pela gurizada (risos). Sempre é divertido. Mas não se engane em pensar que é só a molecada que aparece, não, adultos também gostam…
Você já criou (mesmo que não tenha sido publicado) algum digimon?
Seria interessante. Mas isso vem direto do Japão. A expectativa está em que no ano que vem, com esse meu trabalho saindo no Japão também, a Toei tope passar a criação de alguns personagens para seus games, para eu criar.
O fato de desenhar os Digimon te trouxe algum tipo de fama na sua cidade?
Um canal local fez uma matéria comigo, recentemente, divulgando além do Digimon, o Curso de Histórias em Quadrinhos que tenho junto com meu amigo Marcos Pinto. Anda tendo aquele esquema de ser reconhecido na rua, tal e coisa. Mas isso não faz muito a minha cabeça.
Como você se inspira para fazer as histórias?
Meu ambiente de trabalho é cercado pelo meu material, alguns bonecos e referências que a Toei/DHorse mandou, essas coisas,… além de boa música (pelo menos para mim).
Há perspectiva das revistas de HQ dos Digi serem lançadas por aqui?
A detentora de uso da imagem DO DESENHO ANIMADO aqui no Brasil é a Editora Abril. Ela está publicando uma versão em "fotonovela" do Digimon. A adaptação oficial para quadrinhos, até onde sei, não está licenciada para ninguém até o momento.
Quais outros projetos você tem além dos Digimon?
Tenho essa série (Soul Manager) que estou desenvolvendo para o mercado norte-americano. Paralelo a tudo isso, tem as histórias que faço numa linha mais intimista, onde utilizo poemas, letras de música, algo bem diferente do que costumo publicar profissionalmente. Pode ser conhecido no website do RAFF, nome da publicação que produzo por conta própria desde 1987. Além disso, criei em 1997 o DEADLINE STUDIO, uma cooperativa de artistas daqui do Sul, onde eu e diversos outros colegas e amigos de grande talento, como Eduardo Müller, Sandra Lacerda, Maurício Dias, Marcos Pinto, Carolina Mylius, Mártin Flores, entre outros. Estamos produzindo profissionalmente quadrinhos, além de trabalhos diversos com publicidade e programação visual. Estaremos em São Paulo no Animecon 2000. E eu estarei na escola IMPACTO QUADRINHOS, ministrando um workshop sobre o Digimon.
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