Bons brasileiros: UFFO, Garoto Vivo na Villa Cemitério e Gemini 8

Abril publica vencedores em concurso de talentos…mas ainda falta a periodicidade

Em busca de novos talentos, em 2010 a Editora Abril lançou o concurso Prêmio Abril de Personagens, uma iniciativa para encontrar novos talentos da HQ Nacional… e encontrou!  O resultado pode ser visto desde janeiro nas bancas, com “Garoto Vivo na Villa Cemitério” e “UFFO – Uma Família Fora de Órbita”. A Abril também aproveitou a deixa para lançar um terceiro título, “Gemini8”.

UFFO e Garoto Vivo foram (bem) escolhidas entre 603 inscritos que toparam o desafio de “criar narrativas infanto-juvenis, em forma de histórias em quadrinhos, para o público entre 7 e 12 anos, de ambos os sexos”.   A primeira HQ, que venceu o concurso, é de autoria de Lucas Lima (com Lilian Lima ajudando nos roteiros) e inicialmente chamava-se “Os Alienados”, mas foi rebatizada com, digamos, um título mais autoexplicativo.

A história de abertura mostra o garoto Zac contando aos colegas de classe que é um alienígena e, por sinal, não é o único: o pai (Cosmo), a mãe (Celeste) e o cachorro (Galileu) do menino na realidade são o resto da tripulação de uma trupe de exploradores intergalácticos. Eles se disfarçam como uma família para se infiltrar entre os terrestres e aprenderem tudo sobre a cultura e os costumes locais – cada um dos aliens é um especialista em uma determinada área de estudo.

O humor dá a tônica nas aventuras da “família”. A HQ na qual a nave dos quatro é parada por um policial rodoviário, por exemplo, é hilária não apenas para a faixa etária proposta. Aliás, quadrinhos inteligentes são aqueles que alegram também os adultos como bem sabe Maurício de Sousa, para citar apenas um exemplo – e tanto UFFO quanto Garoto Vivo exploram bem isso.

Por sinal, a história de Caio, o menino que por engano acaba indo parar em um camping para defuntos e monstros em vez do tradicional acampamento de verão, além do traço cativante, brinca com um humor levemente negro, o chamado “terrir” – com direito a brincadeirinhas levemente nojentas que agradam bem ao público infantil (vale reaaltar que a noção dos monstros sobre o que é nojento também garante boas risadas).

Os argumentos do autor Fabrício Pretti são bem amarrados e respeitam a inteligência dos jovens leitores. Apesar de ter ficado em segundo lugar no concurso da Abril, Garoto Vivo na Villa Cemitério tem boas chances de ficar em primeiro lugar no gosto do público leitor, mas a briga vai ser boa.

Por fim, Gemini8 é de autoria de Celia Catunda e Kiko Mistorigo e tem um estilo que lembra desenhos animados mais modernosos, cheios de cor, com foco nos personagens e pouco detalhamento nos cenários. Somado à utilização de requadros pouco tradicionais para reforçar a ideia de velocidade em várias páginas, isso imprime um ritmo rápido à aventura de Marco e Polo.

O primeiro é um menino terráqueo que vai parar no planeta Gemini8 após subir em uma árvore para pegar uma pipa e, a partir daí, recebe a ajuda do garoto Polo que tenta fazer com que ele volte para casa antes de ser detectado pelos demais habitantes do planeta. O subtítulo da revista é “1001 tentativas de mandar Marco de volta para casa!”. Como neste primeiro gibi só há duas tentativas, pode-se concluir que os autores esperam que a revista continue firme por muito tempo… 

Resta saber, porém, se a Abril vai dar continuidade aos três títulos, já que os números um chegaram às bancas em janeiro e fevereiro passou em branco, sem nenhum sinal dos números 2. Em defesa da editora, vale lembrar que nas revistas não está especificado se a periodicidade deve ser mensal, bimestral, semestral… Além disso, a previsão inicial para saída das primeiras edições era agosto de 2011 e elas só chegaram em janeiro de 2012, então um atraso não seria novidade.

Por outro lado, as regras do concurso falavam que os vencedores teriam “sua obra publicada”, mas não estabelecia se esta publicação seria contínua ou não (e, convenhamos, nenhuma editora assumiria um compromisso desses sem antes verificar os números de venda primeiro). Enfim, fica a torcida para que os personagens Fabrício Pretti, Celia Catunda e Kiko Mistorigo, e Lucas e Lilian Lima tenham vida longa.

Em tempo: os gibis custam R$ 1,95 cada.

(publicado em 7/3/2012)