Imperdível, por Tutatis
Nove entre dez fãs de Asterix concordam que as aventuras do guerreiro de bigodes loiros e seu parceiro gord…- quer dizer, de peito caído – Obelix eram muito melhores quando o desenhista Albert Uderzo seguia os roteiros do brilhante René Goscinny.
Não que as aventuras tenham se tornado ruins após a morte de Goscinny, em 1977, afinal Uderzo era tão pai dos personagens quanto o amigo. Mas, com certeza, elas perderam alguma coisa…que pode ser reencontrada pelos leitores no mais recente lançamento da Editora Record com os gauleses: Asterix e a volta às aulas.
O leitor brasileiro talvez estranhe um novo álbum, afinal o anterior (O Dia em que o céu caiu, de 2005) foi anunciado com estardalhaço como a última aventura dos gauleses. E de fato foi: ocorre que “volta às aulas” foi lançada antes do álbum derradeiro em todo o mundo, menos no Brasil. Assim, na prática ocorreu uma inversão da ordem na coleção brasileira: o álbum que para o resto do planeta é o último leva o número
de 33 lá fora, aqui é o 32, e este novo lançamento, o 33.
Asterix e a volta às aulas traz uma coletânea de 14 histórias curtas, em sua maioria produzidas pela dupla ou ao menos sob a supervisão de Goscinny, que mostram os guerreiros gauleses em sua melhor forma. São aventuras independentes, algumas produzidas apenas para a diversão pessoal de Goscinny e Uderzo, outras sob encomendas das mais diversas: de HQs para as revistas Elle e Pilote a um pedido da prefeitura de Paris para que os heróis colaborassem na propaganda da França como sede das Olimpíadas, nos anos 80.
Se destaca na coletânea uma série de cartuns e tiras nas quais Uderzo muda o traço para “atender” a sugestões de leitores que acreditam poder melhorar Asterix. São simplesmente hilários os desenhos dos gauleses em “traço moderno” usando metralhadoras contra os romanos, em uma mini-aventura no estilo Flash Gordon ou ainda em estilo hippie/psicodélico.
Também imperdíveis são as tiras feitas para jornais estadunidenses e a história curta “Os autores em cena”, onde a dupla de autores se desenha em uma HQ na Inglaterra dos anos de 1960 e encontra um descendente de Obelix, um tal Obelisc´h. Além das gafes e caricaturas de personalidades reais dos quadrinhos da época, Goscinny e Uderzo inventam uma árvore genealógica do guerreiro ruivo.
Há no livro apenas uma história razoavelmente insossa e que foge à regra das demais, datadas em sua maioria dos anos 60 e 70: Cocoricox, feita em 2003 por Uderzo. O foco da história é o galo da aldeia, que deve enfrentar uma águia para salvar a galinhada, e para isso conta com a ajuda de Idéiafix. É uma daquelas historinhas em que todos os bichos falam e, sinceramente, não faz nenhum acréscimo à literatura de Asterix.
Um detalhe que vai conquistar os fãs é que, antes de cada história, há uma ficha técnica com a data em que ela foi elaborada e uma pequena descrição do por quê foi criada e onde circulou. Também pensando em agradar os fãs, a editora Record acaba de anunciar que está “remasterizando” todas as aventuras dos gauleses. A idéia é recolorizar digitalmente todos os livros já lançados, padronizando cores e tradução.
O projeto, sem prazo para conclusão, é coordenado pelo cartunista Ota, famoso por seus trabalhos nas páginas da Mad brasileira. Asterix e a volta às aulas custa R$ 25,00 e tem 56 páginas coloridas. Recomenda-se a degustação das aventuras acompanhadas com um bom javali e uma ânfora de vinho de Durocortorum, por Tutatis!
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