Que o Brasil tem grandes talentos no traço não é novidade. Que boa parte dos super-heróis nos últimos anos se privilegia da arte brazuca também não. A novidade, das boas, é que a Panini resolveu valorizar os artistas nacionais com o especial “DC Made in Brazil” (148 páginas coloridas, R$ 17,90). A edição traz histórias publicadas pela editora americana com desenhos das feras Ivan Reis, Ed Benes, Joe Prado, Eddy Barrows, Paulo Siqueira e Rafael Albuquerque.
Arte de Ed Benes, apelidado pelos leitores como "o desenhista das gostosas" |
A valorização em si não está só na publicação das HQs, mas também no fato de a edição trazer mini-biografias e fotos dos autores, possibilitando que o leitor brasileiro conheça um pouco mais a fundo a carreira de cada um deles. E antes que alguém se pergunte sobre o porquê de alguns artistas brasileiros terem os nomes americanizados, a resposta está nas bios (em síntese, houve tanto adaptações para conquistar o mercado estadunidense como erros de entendimento que transformaram “Barros” em “Barrows”).
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Traço de Ivan Reis, que se destacou desenhando o Superman e hoje é apontado como um dos dsenhistas-chave da DC |
As histórias em si foram escolhidas para mostrar o estilo de cada um e, assim, são aleatórias: não há relação entre elas, são HQs pinçadas de épocas diferentes e há tanto histórias fechadas – como “Recrutamento”, do cultuado Ivan reis (considerado atualmente como “o cara” para desenhar Superman)- quanto capítulos de arcos mais longos cuja continuação não está no gibi, ou melhor, neste gibi. Um exemplo deste segundo caso é “Ignição”, aventura dos (novíssimos) Titãs protagonizada por Kid Demônio no traço de Eddy Barows.
Kid Demônio no traço de eddy Barros, ou melhor, Barrows |
O elo em comum das HQs, segundo o editor sênior da DC no Brasil, Levi Trindade, fica mesmo por conta dos artistas, ou melhor, de duas características comuns aos seis brazucas “(…) A seriedade com que tratam o trabalho e a qualidade da arte que produzem”, afirma.
O traço de Joe Prado, o multi-homem: capista, desenhista e agente de talentos |
Levi também ressalta que há outros bons quadrinistas brasileiros publicando quadrinhos de super-herói nas editoras americanas e deixa no ar uma promessa. “Temos diversos outros artistas que encheriam fácil mais uns dois volumes iguais a este. Mas vamos devagar e sempre, pois isso seria conversa para outro dia”, diz.
Desenhos de Paulo Siqueira, o santista que já desenhou até o cowboy Jonah Hex |
Vale ressaltar que a edição 1 de “DC madein Brazil” foi produzida também com muito capricho do ponto de vista gráfico, já a contar da capa, que reproduz uma arte PB de Ed Bennes sobre uma folha de trabalho da DC, até as páginas coloridas internas em papel couchet. As bios dos autores também trazem, junto com a imagem de cada um, reprodução de trabalhos com uma diagramação caprichada.
O traço de Rafael Albuquerque: brasileiro ganhou prêmio Eisner 2011 com American Vampire |
Faltou alguma coisa? Talvez. As HQs que compõe o gibi não são apenas ilustradas por brasileiros, mas há também coloristas e arte-finalistas de nosso país, como Marcelo Campos, Rod Reis, Júlio Ferreira e Amilton Santos, que mereceriam algumas linhas de biografia também, quem sabe em uma única página menor e separada. Quem sabe se em um dos próximos números citados por Levi Andrade, se eles se concretizarem.
Confira abaixo as histórias deste primeiro Made in Brazil e quem são os artistas homenageados:
Recrutamento (Arquivos secretos do Capitão Atomo) – Roteiro de Geoff e Jeremy Johns, desenhos de IVAN REIS, arte-final de MARCELO CAMPOS, Cores de Tom McCraw. Com Capitão Atomo, Superman, Batman, Lex Luthor e Major Força.
Rodrigo Ivan dos Reis, nascido em São Bernardo do Campo (SP) no ano de 1976, é considerado um dos desenhistas-chave da DC Comics, apontado como um dos melhores ilustradores das HQs do Super-Homem e foi um dos artistas designados para redefinir o design de vários personagens da casa ao lado de Jim Lee em 2011. Começou a carreira aos 14 anos na editora Bloch, depois trabalho no estúdio de Maurício de Sousa. Tem passagens e trabalhos na Art & Comics, Dark Horse, Chaos Comics, Marvel e Crossgen.
A Jornada – Roteiro de Mark Verheiden, desenhos de ED BENES, arte final de ROD REIS. Com Superman, Lois Lane e Jimmie Olsen. José Edilbenes Bezerra, natural de Alto Santo (CE), é o atual desenhista de Red Lanterns, spin off da série A Noite Mais Densa.
É conhecido pelos leitores como “o desenhista das gostosas’, em virtude do traço voluptuoso de suas personagens femininas. Agenciado pela Art&Comics, começou no exterior em 1993 na Continuity Comics (editora de Neal Adams) etem trabalhos em diversas editoras, incluindo a Marvel, tendo desenhado personagens que vão dos X-Men a Thundercats. Atualmente tem contrato exclusivo com a Marvel e estúdio próprio, o Ed Bennes Studio, que prepara artistas para o mercado exterior.
Lições na Areia – Roteiro de Sterling Gates, desenhos de JOE PRADO, arte-final de Marlo Alquiza, Cores de Art Lyon. Com Kile Rayner, Guy Gurdner e Morrho (Tropa dos Lanternas Verdes). O paulistano João Baptista Leme do Prado criava os próprios fanzines e desenhava roteiros do editor Roberto Guedes na adolescência. Enquanto estagiava na Art&Comics começou a trabalhar na Mythos editorial e de lá foi para a Trama, na qual trabalhou com o roteirista Marcelo Cassaro na minissérie UFO Team.
Tornou-se agente de desenhistas como ele mesmo, sendo respeitado em ambas as funções. Como desenhista, trabalhou com personagens como Thundercats, LJA, Teen Titans e outros. Mais recentemente fez a arte-final de A Noite mais Densa e da nova versão de Aquaman, lançada nos EUA, bem como também participou do redesign de diversos personagens da DC. Joe é considerado ainda um excelente capista (é dele a capa da edição brasileira de Batman 100, pela Panini, bem como de diversos trabalhos para as editoras Moonstone e Dynamite Entertainment).
Ignição – Roteiro de Sean McKeever, desenhos de EDDY BARROWS, arte-final de Jimmy Palmioti e JÚLIO FERREIRA, cores de ROD REIS. Com Novos Titãs (Robin, Kid Demônio, Moça Maravilha, Miss Marte, Besouro Azul, Devastadora e Titãs do Terror). Eduardo Antônio Costa de Barros, natural do Pará, teve seus primeiros desenhos publicados no Exterior no final dos anos de 1990, pela Chaos Comics. Trabalhou também para a Image e hoje tem contrato de exclusividade com a DC. Recentemente foi escolhido como desenhista principal do novo título do Asa Noturna nos EUA.
Deixados para trás ! – Roteiro de Andrew Kresisberg, desenhos de PAULO SIQUEIRA, arte-final de Amilton Santos, Cores de Allen Passalaqua. Com Lois Lane, Alfred, Liga da Justiça. O santista Paulo Hnerique Vilarinho Siqueira começou na editora Avatar Press. Três anos depois foi convidado por Joe Prado para integrar a Art&Comics e conseguiu as primeiras propostas de Marvel e a DC. Já desenhou HQs de personagens como Canário negro, Birds of Prey, Homem-Aranha, JLA e Jonah Hex.
Parceiros – Roteiro de Michael Green e Mike Johnson, arte de RAFAEL ALBUQUERQUE, Cores de David Baron. Com Supergirl, Robin, Batman, Superman e vilões de Gotham City. Natural de Porto Alegre, Rafael Albuquerque começou sua carreira no exterior desenhando HQs para a editora AK Comics, do Oriente Médio.
Em 2005 fundou a PopArts Comics Studio e no ano seguinte desenhou para várias revistas da Boom Studios. Na sequência, teve trabalhos publicados pela Image e Dark Horse. Na DC, foi desenhista oficial FDA série do Besouro Azul, bem como Mulher-Maravilha, além de um HQs da dupla Superman e Batman e um especial de Robin & salteadora.
Também lançou publicações independentes em parceria com Mateus Santolouco e Eduardo Medeiros, que acabaram reunidas no encadernado Mondo Urbano, lançado nos EUA pela Oni Press e no Brasil pela Devir. Produziu também para Marvel e, de volta a DC em 2011. Se destacou no título American Vampire, da linha Vertigo, com o qual ganhou o cobiçado prêmio Eisner em 2011 como melhor nova série. Em 2012, além de continuar à frente do Vampiro Americano, Rafael também publica na Internet o webcomic Tune 8 (http://quadrinhos.ig.com.br/ )
(publicado em 12/01/2012)
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