Quem bate o olho rapidamente em uma das páginas do genial (SIC), de Orlandeli, pode ter a impressão de que ali se encontra uma charge estendida em vez de uma tira de quadrinhos. Afinal, o formato é diferente do habitual e a crítica é extremamente mordaz, como condiz a uma boa charge. Tão mordaz que há quem classifique o humor do autor como negro. Bobagem. O humor de Orlandeli é talvez um pouco cético, mas preciso e inteligente, daqueles que desnuda a alma do ser humano e, ao fazê-lo, mostra como somos patéticos. E ao nos depararmos com nossas próprias almas patéticas, resta-nos rir.
As 64 historietas (tiras, tiras!) distribuídas nas 72 páginas do livro bem editado pela Conrad causam risos exagerados, só com o canto da boca ou até amarelos. Todas, porém, impressionam pela visão do autor e sua capacidade de enxergar as pequenas e grandes ironias da alma humana cotidiana – com direito a uma ou outra pitada de fantasia que deve ser encarada mais como metáfora do que como ficção.
Os roteiros de cada tira chamam tanta atenção quanto o traço. Quando começou, Orlandeli tinha seu desenho comparado ao do mestre Henfil, de quem é fã declarado. Em (SIC), Orlandelli só pode ser comparado com ele mesmo, exibindo seu traço cômico e detalhista, abusando dos olhos sem pupilas que revelam e incomodam, utilizando-se das cores vivas em meio a tons iguais para chamar a atenção de maneira tão precisa quanto Frank Miller em seu Sin City.
O autor conta que a ideia para (SIC) surgiu em meio a seu trabalho com Grump, personagem que também explora de maneira sarcástica o cotidiano, mas com um humor mais escrachado. “Quis fazer uma coisa diferente, que possibilitasse trabalhar mais o texto e a narrativa. O formato tradicional acaba limitando muito, quis testar e experimentar as possibilidades no formato de tira dupla”, diz o autor, que fez a experiência em meados de 2008 e inscreveu as tiras no Salão de Piracicaba, sagrando-se vencedor na categoria (em 2010, Orlandeli tornou-se jurado do salão).
Em março de 2009, (SIC) começou a ser publicada semanalmente no Diário da Região, que já publicava Grump. “Meses depois inscrevi o projeto de coletânea dessas tiras no ProAc (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado) e mais uma vez a tira foi premiada, garantindo a publicação do livro que agora saiu pela Conrad”, conta.
(SIC) tem 72 páginas, custa R$ 19,90 e é totalmente colorido e publicado em papel couchet com capa dura (formato 19×22). Depois de ler, o gosto é de quero mais: para sorte do leitor que não tem acesso ao Diário da região, de São José do Rio preto, é possível ler várias tiras no blog do autor: http://blogdoorlandeli.zip.net/
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