Chico detona a era FHC
No Brasil, diferentemente de muitos outros países, charges são consideradas jornalismo opinativo. E não é para menos. Basta dar uma olhadinha em Era (uma vez) FH – O Humor da História no Brasil de 1994 a 2002, para saber porque. Recém-lançado pela Devir Editora pelo selo Jacarandá, o livro traz, em 150 páginas, uma coetânea de charges de Chico Caruso retratando o período em que o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) permaneceu no poder.
Só o fato de Caruso ter um traço magistral – e utilizar caricaturas nas charges -, aliado a altas doses de um humor afiado, já seria suficiente para classificar a coletânea como obra de arte. No entanto, como o autor retrata de maneira crítica todos os principais acontecimentos do país nos oito anos que FH permaneceu no poder, a coletânea é na verdade um rico e divertido livro de história – por sinal, nunca é demais lembrar que é comum historiadores recorrerem a caricaturas dos jornais e revistas de uma época quando querem buscar um retrato mais fiel daquele período em vez da história "mais oficial" retratada na maioria dos livros.
Tudo o que aconteceu na vida política do País está nas mais de 300 chrges reunidas de Chico Caruso. A caminhada de burrico de FHC (com direito a ACM na garupa), as alianças, as nomeações de ministros, a queda de Ricúpero, a morte de Serjão, a "queima de arquivo"de PC, o "namoro"com Maluf… detalhes que talvez muitos eleitores de FH tenham esquecido, mas que Chico faz questào de lembrar. A retrospectiva vai até o recente prêmio da ONU dado ao presidente, passando pelo apagão (com direitos a ironias a Itamar Franco) e a recente eleição. Por sinal, as charges deste período, talvez por ser o mais recente, estão entre as mais hilárias do livro: impossível não rir com o elevador em que se cruzam Serra e Ciro, ou com o desfile de modelos no qual as moças escul;turais ganharam as cabeças dos quatro principais presidenciáveis e Fernando Henrique aparece à frente, em trajes de estilista de moda.
Fernando Henrique, porém, não é nem de longe o único político retratado. César Maia e família, ACM e José Roberto Arruda no escândalo do painel do Senado (misturados em uma única criatura), Jader Barbalho colocado coerentemente ao lado de Fernandinho Beira-Mar, Sarney pintando Roseana como Monalisa… não falta ninguém.
E Chico não se manteve alheio à vida extra-política, assim é possível ver, entre outras, uma belíssima charge retratando a morte de Ayrton Senna, bem como um "The End" visualizado no por do sol por entre os prédios de Manhatan quando um avião se aproxima do World Trade Center. Ah, sim, por falar em Americanos, Bill Clinton e suas orgias estào no livro, bem como Bush caçando Osama Bin Laden ao lado de Rambo e Schwarzennegger. E em uma outra ela charge, o terrorista também ganhou a cara de outro radical, este bem mais brasileiro, o deputado Enéas Carneiro, que dispara: "Meu nome é Osama!"
Era (uma vez) FH está à venda nas lojas especializadas de quadrinhos (Comic Shops) e nas livrarias, por R$ 49,00. O preço pode até parecer um pouco salgado, mas por se tratar do maior, melhor e mais divertido livro sobre a História recente do Brasil, vale a pena. Ah, e com um brinde: o prefácio é do não menos crítico e não menos divertido escritor Luís Fernando Veríssimo.
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