Bangue-Bangue a Shakeaspereana (Agosto/2000)

Mundo HQ

Bangue-Bangue à Shakeaspeariana
Álbum especial traz Ken Parker interpretando Hamlet com Marylin Monroe; personagem terá título mensal pela Editora Mythos

 

Um personagem que vive no Velho Oeste, mas cujas histórias magnificamente desenhadas não são repletas de tiroteios, duelos, índios, bandoleiros e ladrões de gado. Só isso já deveria ser suficiente para dar o título de obra-prima a Ken Parker, um cowboy nada convencional criado em 1974 pela dupla italiana Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo, inspirados pelo personagem de Robert Redford no filme Mais Forte que a Vingança (1972).
Romper com os velhos clichês, no entanto, não é, definitivamente, a única qualidade de Ken. Graças ao brilhantismo do roteirista Berardi ricamente ilustrado por Milazzo, as HQs do herói são repletas de referências ao tetro, cinema, música, literatura e várias outras formas de expressão artística. É o que se pode ver – claramente – em Um Príncipe para Norma, mais recente aventura do herói lançada em território nacional, pelo Clube dos Quadrinhos (Cluq).
A história se passa, como sempre, durante uma das intermináveis fugas do herói. Ken Parker é um fazendeiro pacífico que, durante uma greve em Boston, matou um policial em legítima defesa. A lei, no entanto, não acreditou na história e o persegue desde então. Em "Um Príncipe", Ken se emprega temporariamente em uma companhia de teatro e, incidentalmente, acaba ganhando o papel principal em Hamlet. E o leitor, por sua vez, acaba ganhando uma versão (lindamente) quadrinizada da obra de Shakeaspeare.
Mas as surpresas não acabam por aí, já que uma corista recém-contratada pelo saloon local resolve se unir a trupe. O nome da moça é Norma Jean, ou, simplesmente, Marylin Monroe. "Marylin sempre foi uma atriz chamada para atuar em filmes populares, cômigos, mas em toda sua vida quis um papel dramático e nunca teve uma chance. Por isso pensei em oferecer uma ‘dupla chance’ a ela nesta aventura: a personagem dela na HQ interpreta Ofélia, um dos maiores personagens dramáticos do teatro, e também a própria Marylin, em seu sofrimento por não ter sido mãe e sua fragilidade emocional que a fazia se atirar sobre os homens", conta o roteirista Berardi.
As referências a outras artes não param por aí. Ken – um herói conhecido por ser mais cerebral e pacífico que por sua mira – aparece lendo um livro da escritora inglesa Elizabeth Browning, Norma canta dois clássicos do "cancioneiro" americano no saloon e há até mesmo uma reprodução do quadro Ofélia, do pintor pré-rafaelista John Millais (1852).
O único problema do álbum especial de Ken Parker é que, como toda obra de arte, o preço não é lá muito acessível: R$ 36,00 (128 páginas, formato grande, capa-dura). Só foram publicados mil exemplares de "Um Príncipe" e para comprar é preciso ir a uma boa livraria ou entrar em contato com o Cluq. Antes, porém, por que não conhecer um pouco mais sobre Ken e outros personagens italianos na página da editora Bonelli? Detalhe: a página tem espaço em português, desenvolvido pelo fã de Curitiba JÚLIO Schneider.

MENSAL?

A boa novidade é que uma minissérie de Ken Parker – que parou de ter histórias inéditas publicadas na Itália em 1996, após a dupla de criação ter anunciado que estava abandonando o herói em busca de outros projetos – será publicada no Brasil já em setembro e, dependendo da aceitação da aventura, o herói poderá ganhar um título mensal (tudo sob as vistas competentes do editor Wagner Augusto, do Cluq, que foi convidado para ser organizador da série).
A empreitada é da editora Mythos, que já publica os personagens italianos Tex e Zagor. "Está na hora de darmos um novo impulso a Ken Parker. Não quero falar sobre isso agora, para não criar expectativas, mas posso dizer que Ken Parker é apenas a ponta do iceberg", diz o editor-executivo da Mythos, Hélcio de Carvalho, já gerando as expectativas que afirma não querer criar.
Na verdade, o plano da Mythos é transformar Parker em título mensal a partir de janeiro de 2001 e lançar ainda as revistas de Dylan Dog e Vento Mágico. Se tudo isso se confirmar, a "nona arte" agradece. Para não mencionar os leitores, em especial os fãs de quadrinhos italianos. Piu belo!!

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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