DC, Abril e o Formatinho
Oi gente… é incrível pensar que as vezes eu sento na frente do micro para escrever o DDC, superempolgado com essa ou aquela notícia ou novidade; falar que essa ou aquela editora vai lançar sei lá eu o quê; que a Marvel foi para as mãos da Panini; o HQ Club está publicando um monte de títulos que, de outra forma, nunca seriam publicados no Brasil, e por aí vai… Mas parece que toda vez que eu sento para escrever sobre a Abril, sempre é para falar de decepções…
Já faz um bom tempo que tenho acompanhado, em alguns fóruns de discussão, algumas pessoas pedindo a volta dos formatinhos, mas sempre me pareceu algo meio impossível de acontecer. Em primeiro lugar porque os que eram contra a volta dos formatinhos eram maioria e, depois, porque o formato “americano” foi uma evolução no mercado editorial brasileiro, aprovado tanto pelas editoras, quanto pelo público. Pois é, como sou ingênuo.
A Abril não só voltou a publicar os tais formatinhos, como parece acreditar (ainda) que nós leitores somos idiotas. Tudo bem, R$ 2,50 por uma revista em quadrinhos não é caro. Mas, se essa revista for impressa em papel jornal? Com apenas 50 páginas? Quinzenais (ou seja, nós vamos gastar R$ 5,00 por mês e não os R$ 2,50 anunciados)? Será que vale?
O argumento de que os Mangás são baratos e por isso vendem bem, conta, concordo.Mas, quantas páginas você lê quando compra um número de Vagabond? Ou de DragonBall? Isso não conta? Parece que sim!
Tenho conversado bastante sobre o assunto com alguns clientes aqui da Pandora, bem como alguns amigos lojistas de São Paulo e a opinião de quase todos é a mesma: insatisfação. Com o papel, com o número de páginas, com a péssima qualidade das capas e até com o preço (ao contrário do que o pessoal da Abril pensa, os leitores aprenderam a fazer contas de dividir o número de páginas pelo preço da revista).
Muitos clientes daqui da Pandora ameaçaram parar de ler revistas da DC nacionais e optar pelas importadas, mais caras, porém melhores. Pense bem, será que você se adaptaria a cortar lenha para fazer um café nos dias de hoje? Ou voltaria a assistir TV em preto e branco para diminuir o gasto com energia elétrica? E os CDs, pra que comprar CDs? Os discos de vinil eram tão bons e bem mais baratos, tudo bem que tinha um chiadinho e riscava muito fácil, mas e daí?
Gente, me desculpem, Mas estamos em 2002, finalmente eu consegui assistir um filme do Homem-Aranha, o mundo não acabou, eu não sou uma bateria biológica de nenhum supercomputador e agora sou obrigado a engolir formatinho??? Com 50 páginas???
Não sei se é a idade, se estou me tornando mais chato ou mais exigente, mas a questão é que estamos (ou no caso, a Abril está) andando para trás e, pra variar, as coisas continuam as mesmas. A nova linha Planeta DC está cara pelo que é. E mais uma vez, ou você se contenta com o que tem, ou fica sem nada. Desculpem-me, mas eu não estou mais a fim disso não.
O DDC dessa semana, além dos endereços de costume (www.pandora.art.br e www.mundohq.com.br) estará sendo distribuído para todos os jornais, sites de quadrinhos, fóruns ou qualquer outra forma que eu possa divulgar o meu ponto de vista. E, quem sabe, como disse Neil Gaiman – se mais de mil gatos sonharem o mesmo sonho, ele se torne realidade.
A bem da verdade, penso eu, que no desespero de lançar logo um material para concorrer com a Panini, a Abril não pensou em todos os prós e contras da sua atitude. Concordo que a redação de heróis nunca foi lá muito bem vista pelo grupo Abril e que o pessoal lá, além de ralar feito louco para solucionar um problema operacional, devia estar se borrando, com medo de perder a boquinha.
Mas e os leitores com isso? Nós não temos, em momento algum, que pagar pela falta de planejamento, gerenciamento ou por qualquer outra falha da editora. Se eles não previram que um dia a Panini daria “um pé na bunda” deles, não é problema nosso. Se eles não previram que, um dia, a concorrência seria grande, não é problema nosso. Se eles não tiveram humildade suficiente para atender o que o mercado pedia, não é problema nosso.
O mais engraçado de tudo, é que a Panini, uma empresa nova – pelo menos, neste mercado aqui no Brasil – entrou no mercado e no primeiro mês, só recebeu elogios. Todos gostaram do material, da estrutura, do respeito com os leitores, etc, etc, etc. E a Abril, que praticamente começou no ramo editorial com quadrinhos há mais de 50 anos, até hoje consegue fazer as coisas erradas desse tanto. Mas não pensem que os erros são somente nas escolhas de formato, papel e preço, porque não são.
Desde que eu comecei a trabalhar com o mercado de quadrinhos, nunca vi respeito algum da editora, nem para com os leitores, nem para com os lojistas. Vez por outra, um título é lançado e distribuído para todas as bancas e nós, lojas especializadas, formadores de opinião, lugar onde o leitor vai procurar aquele “algo mais” de informação por não ter isso na banca da esquina, não temos o tal título. Por quê? Oras, porque ou a loja é obrigada a ter TODOS os títulos lançados pela Abril, ou não pode ter nenhum.
A distribuidora Dinap não aceita que a loja venda apenas alguns títulos. Para ser cliente da Dinap, eu tenho que vender Claudia, Capricho, Veja, Caras… Mas, como? Meu público é especializado, só quer saber de quadrinhos! É por essas e outras, que um monte de editoras novas, que talvez não tenham nem 10% do potencial da Abril, hoje estão vendendo muiiiiito mais que ela. Por terem a humildade de fazer o básico, mas de bom gosto, em respeito ao seu público, e não procurar fórmulas babilônicas de como agradar o leitor sem fazer o mais fácil, que é ouvi-lo.
E se você pensa que os erros param por aí, nós nem falamos da continuidade das histórias, da zona que foi feita com milhões de personagens bons, que hoje estão praticamente impossíveis de serem publicados, pois metade de suas histórias foram publicadas, metade não. Exemplo? A própria Liga da Justiça que parou de ser publicada no meio da saga escrita pelo Grant Morrison, não foi concluída e agora, por falta de títulos, está voltando. Mas o que aconteceu com os personagens e com a formação da Liga? Será que eu vou conseguir entender tudo? Ou no meio da leitura irei ver aqueles malditos “asteriscos” com algo do tipo: “Essa história ainda não foi mostrada”. E a escolha das histórias? Os leitores da Revista Wizard americana viram em vários números,comentários sobre a história publicada em Action Comics nº775, onde o Super-Homem, para deter um pretenso grupo de heróis, toma atitudes não tão ortodoxas. História, aliás, colocada (pela Wizard) como uma das 10 melhores dos 10 anos de Wizard (entre 92 e 2002), junto com Sandman nº50 (Neil Gaiman), Top Ten (Allan Moore), Astro City (Kurt Busiek) e outras coqueluches do momento – que estão sendo publicadas no Brasil, pelas mais variadas editoras – e a história do Super, que é da Abril, SIMPLESMENTE NÃO FOI PUBLICADA.
Pois é, por essas e outras, que a Abril a cada ano, perde mais e mais o espaço que um dia foi só dela, e, por essas e outras, que eu não duvido nem um pouco que em muito pouco tempo, teremos muitas outras editoras pequenas publicando DC. E a Abril vendendo Claudia, Capricho, Veja, Caras…
O Texto do DDC dessa semana, não expressa em momento algum a opinião da Pandora, do Mundo HQ ou de qualquer outra pessoa ligada a essas empresas. Reflete apenas as opiniões pessoais de um leitor, cansado de ver sempre a mesma coisa e com esperança de que um dia as coisas mudem. Ricardo Quintana.
***
Mas, como não há mal que dure para sempre (sem contar, é claro, as sempre horríveis, continuações de sexta-feira 13) temos várias e boas notícias sobre o mundo dos quadrinhos para a semana:
Deuses Americanos – Finalmente o mais novo trabalho de Neil Gaiman, Deuses Americanos, chega nas prateleiras tupiniquins. Com um cuidado primoroso, por parte da Conrad e um preço relativamente bom (R$ 45,00), o novo livro de Gaiman, segundo ele próprio, é a sua melhor obra desde Sandman. E olha que o cara já fez um monte de coisas legais de lá pra cá, como o engraçadíssimo “Belas Maldições”, que Gaiman escreveu em parceria com Terry Pratchett, ou Stardust, escrito por Gaiman e ilustrado por Charles Vess. Ainda segundo Gaiman, para escrever “Deuses Americanos” foram necessários dois anos de muito trabalho e isolamento. É claro, que isolamento é um luxo que muitas vezes ele teve que abrir mão, já que vez por outra seus livros estão sendo lançados em algum lugar do mundo e ele acaba sempre sendo convocado. Quem esteve na Fnac acompanhando o lançamento do “Livro dos Sonhos” pôde conferir o quanto Neil é preocupado em agradar e ser gentil com seus fãs.
Mais Neil Gaiman – A Editora Via Lettera também está lançando um livro do senhor Gaiman. “Fumaça e Espelhos” não é tão novo quanto “Deuses Americanos”, mas está sendo publicado no Brasil pela primeira vez. O livro, que é uma coleção de contos, promete ser tão assustador, sombrio e maravilhosamente bem escrito quanto qualquer outra coisa que Gaiman tenha colocado as mãos. A versão nacional do livro tem capa pintada pelo brasileiro Kipper, da revista Front.
Estranhos no Paraíso – No troca-troca das editoras, a Pandora Books, que acaba de publicar “A Última Tentação” escrito pelo “quase nada citado no DDC Neil Gaiman”, acaba de fechar contrato com Terry Moore para publicar as histórias de Katchoo (saúde) e Francine no Brasil e em Portugal. Ao que tudo indica, Moore não estava lá muito contente com a atenção que a editora Via Lettera estava dando para sua criação e resolveu passar os direitos de publicação para a Pandora Books, que desde sua fundação, “pentelhava” o autor para adquirir os direitos sobre o título.
Tomara que a Pandora Books continue a publicar “Estranhos no Paraíso” do ponto em que parou, já que o próximo arco ganhou em 1996 o prêmio Eisner Award de melhor história.
John Constantine – Se você é leitor de Hellblazer ou fã do herói mais vilão dos quadrinhos, não deixe de ler “Sandman apresenta: Love Street”.
A história, escrita por Peter Hogan, esclarece algumas coisas do passado de John e, é claro, deixa outras coisas em haver… mas vale cada linha, cada balãozinho.
A obra, por definição do próprio autor é uma história de amizades, sobre ser honesto consigo mesmo e sobre ideais.
Ricardo Quintana é publicitário, sócio proprietário e professor da Pandora Comic Shop e deve estar recebendo um por fora do Neil Gaiman. Outra coisa, essa história de mil gatos parece meio narcisista…
Onde está a Pandora ? Rua Joaquim Novaes, 25 – Cambuí – Campinas – SP
Como você fala com a gente ? Fone: 19 3234-4443
e-mail: info@pandora.art.br
Comentar