Se o mitológico rei Midas podia transformar tudo que toca em ouro, o lendário cartunista italiano Milo Manara não faz por menos: transforma qualquer garota que desenha em erotismo puro. Não foi diferente com as X-Girls (o Men do nome original dos mutantes da Marvel deveria ser compulsoriamente descartado nesta HQ) em uma parceria até então inédita com o mais comemorado escritor X de todos os tempos, Chris Claremont. Lançada na Itália em 2009 com o nome “X-Men: Ragazze in fuga”, a edição foi traduzida e colorida em 2010 para os Estados Unidos e boa parte do mundo ocidental, e chegou às livrarias brasileiras agora em dezembro.
A história…bem, quem se importa com a história? Nem precisariam chamar Claremont para pensar em um roteiro, afinal é impossível alguém se concentrar na narração quando se depara com as caras e bocas das mulheres de Manara. Que, aliás, são uma tremenda novidade para os quadrinhos de super-herói, ambiente tipicamente ambientado por deusas de atributos exagerados e pouco proporcionais. As X-Girls de Manara são bem torneadas e com lábios carnudos, é verdade, mas são mulheres possíveis e bem mais reais que as que normalmente conseguem espremer seus corpos siliconados nos uniformes colantes.
Manara, por sinal, confessa em entrevista na própria revista que não tem intimidade alguma com o gênero. “A verdade é que meu conhecimento de super-heróis era bem superficial, muito embora eu tivesse um extremo respeito por eles”, confessa o mestre do quadrinho erótico, dizendo-se grato a Chris Claremont por não ter enchido a história de superpoderes.
“Ele foi gentil o suficiente não só de usar quase exclusivamente personagens femininos, mas também de privá-los de seus poderes e fantasias na maior parte da história. Quem gosta de relâmpagos e rajadas de energia telecinética provavelmente ficará desapontado, mas eu realmente apreciei a inteligência de Chris: ele me deu capacidade de entrar em seu universo sem jamais deixar completamente o meu. Ele me deu um paraquedas.”
E o que Manara deu a Chris e aos fãs dos X-Men? A resposta é óbvia: deu sensualidade sem par ás personagens Tempestade, Vampira, Psyloque, Kitty Pride, Rachel Summers e Rainha Branca. Bem como a outras diversas moças secundárias que desfilam pelo cenário da aventura. A saber: Vampira recebe como herança uma ilha grega, Kirinos, e leva suas amigas para uma viagem de férias.
Durante uma destas festas, Rachel é capturada por um grupo que explode todo o lugar. Unidas, as heroínas vão ao resgate de Rachel, mas se deparam com uma inimiga que anula seus poderes mutantes.
Em decorrência do público – e das heroínas serem do primeiro time da Marvel e não do tipo passível de retratações mais fortes estilo Marvel Max – não há nudez na história, o que só ressalta a maestria de Manara. Seja explorando ângulos e uniformes justinhos, seja nas bocas e olhares lânguidos, o italiano consegue trazer a tona o lado sexy das personagens ao mesmo tempo em que comprova uma de suas frases mais famosas: “O cérebro é o melhor órgão sexual do ser humano.”
Uma curiosidade é que no original italiano, “Garotas em fuga” foi lançado em branco e preto, o que torna algumas cenas passíveis de dupla interpretação visual, dando a impressão de que as meninas poderiam estar sem roupa (há cenas de Tempestade, em especial, que passam a impressão em PB). Nas cores colocadas para a versão americana (e brasileira), porém, Ororo ganha uma calça laranja para não deixar margem a dúvidas.
Se isso foi feito porque o leitor americano gosta mais de HQs coloridas ou para que a Marvel se salvaguardasse de qualquer moralismo americano, nunca se saberá. Fica a cargo do leitor interpretar como achar melhor.
FICHA TÉCNICA “X-Men – Garotas em Fuga”
Formato: 18 x 27,5 cm
Capa: 04 páginas 4/4 cores – Capa cartonada
Miolo: 64 + 4 pags 4/4 LWC
Valor: R$ 14,90
Distribuição: nacional
(originalmente publicado em 17/12/2010)
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