Sin City

Considerado um dos maiores gênios das histórias de quadrinhos adultas dos últimos tempos, o estadunidense Frank Miller criou a série Sin City em 1991. Desde então, Miller já escreveu pelo menos dez livros contendo as histórias da Cidade do Pecado. O título tornou-se uma espécie de obsessão do autor, que costuma ficar recluso e não dar entrevistas quando está em processo de criação dos roteiros.


Também é considerado por muitos como a principal obra-prima de Miller. Principal, sim, pois ele já era reverenciado por produzir grandes HQs antes de Sin City, entre as quais destacam-se Elektra Assassina e A Queda de Murdock (ambas de 1986), Batman: Cavaleiro das Trevas (também em 86) e Batman Ano Um (1987). Este último, por sinal, foi a fonte de inspiração para a ótima adaptação Batman Begins, lançada na telona em 2005.


Miller também chamaria a atenção com outras graphic novels depois da Cidade do Pecado, caso da excelente Os 300 de Esparta. Em Sin City, o autor uniu duas características que transformaram o título em sucesso absoluto: um roteiro violento e sombrio, e desenhos em que a utilização do branco e preto é explorada de forma magnífica.

Miller é um mestre incontestável na utilização de sombras e luzes e, em diversas histórias, surpreende com a utilização da cor apenas para ressaltar um detalhe da história – como o vestido ou lábios cobertos por batom ou um personagem.


Enredo: Nas histórias de Sin City, Miller retrata a violência de maneira crua e, por vezes, repugnante, nas ruas da chamada “Cidade do Pecado”.

Cenas de mutilação de corpos e chacinas são comuns e reforçadas com pensamentos antológicos como: “Temos que matar até o último desgraçado (…) Não é por vingança, não é porque eles merecem. Não é porque eu vou transformar o mundo num lugar melhor. Não tem nada certo ou nobre em fazer uma coisa dessas. Temos que matá-los porque precisamos deles mortos.”

Os roteiros pesados, porém, são amenizados pela beleza da arte e pelas histórias de superação de homens (sempre) que buscam sua justiça pessoal a qualquer custo, em histórias nas quais a luta típica entre o bem e o mal não existe: em Sin City, todos são pecadores.

Há homens maus e homens piores. Há assassinos com um estranho senso de honra pelo qual o leitor involuntariamente acaba torcendo, policiais corruptos, psicopatas canibais protegidos por padres, pedófilos acobertados por políticos.


E, claro, há mulheres. Sempre curvilíneas, voluptuosas e motivando a ação, de maneira consciente ou não. Muitas são prostitutas, algumas assassinas, outras meras interesseiras.

Poucas são, à primeira vista, ingênuas e inocentes. Mas só á primeira vista. Na obra de Miller, o ser humano é mostrado em toda sua sordidez e sem maniqueísmos simplistas.

Afinal, por mais que haja espaço para heroísmos e boas ações, esta é  Sin City, a cidade de todos os pecados.

 

Personagens principais:

Muitos morreram em alguns arcos, mas reaparecem em memórias de outros personagens ou em histórias contadas posteriormente, mas cronologicamente anteriores ao arco em questão. Aliás, lendo todos os livros é possível descobrir conexões inesperadas entre os personagens, ou mesmo notá-los como se fossem personagens secundários, em “cenas de fundo”.

Marv  é um  brutamontes extremamente violento, que se especializou em fazer serviços sujos para quem considera merecêlos. Sofre de distúrbios mentais e alucinações. Tem um  código de honra muito pessoal e tenta ser um cavalheiro com as mulheres.

Dwight McCarthy é um sujeito violento que, depois de se meter em inúmeras encrencas, ganhou novo rosto e  identidade, após passar por uma cirurgia plástica.  Deve favores às prostitutas da Cidade Velha e faz questão de pagá-los com juros.

John Hartigan é um policial sexagenário em vias de se aposentar e é provavelmente o único tira honesto de toda a corporação. Antes de pendurar as algemas, porém, resolve investigar um último caso, que trará muita confusão.


Goldie e  Wendy  são as gêmeas que confundirão a cabeça de Marv (e que serão as chefonas da Cidade Velha por um bom tempo).


Gail é uma das prostitutas que mandam na Cidade Velha . Tem um relacionamento de amor e ódio com Dwight.

Wallace é um herói de guerra que tenta ganhar a vida como artista. “Tem o péssimo hábito de sempre fazer o que acha correto”

Lucille é a agente de condicional de Marv e advogada de Hartigan.


Miho é uma japonesinha miúda e mortal: é a assassina que protege as prostitutas da cidade velha.


Shellie é garçonete que sofre nas mãos do namorado policial Jackie Boy até tornarse amante de de Dwight.


Mamute – Torturador que trabalha para as famílias mafiosas. Perdeu um olho em uma briga com Marv.


Cardeal Patrick Henry Roark é um sacerdote católico que, bem, na verdade não é nada católico… 


Ava Lord, ex-amante de Dwight McCarthy que seguiu por outros caminhos e despertou a ira das prostitutas da cidade velha.


Senador Roark, político corrupto irmão do cardeal, cuja família manda na cidade há gerações.

Nancy Callahan é uma stripper que foi salva quando criança pelo detetive John Hartigan das mãos do pedófilo Roark Jr., que se tornaria o Assassino Amarelo (No original, The Yellow Bastard).

Fat Man e Little Boy – Uma dupla de assassinos pés-rapados que sempre se mete em encrenca, são o alívio cômico (de humor sombrio) da série. Falam sempre difícil, lembrando os encanadores criados pelo humorista Jô Soares nos anos 1980/90.

Delia – Uma perigosa e sensual assassina, conhecida por seus olhos azuis e hábitos de viúva negra: faz questão de transar com a vítima antes de matá-la.

Herr Wallenquist – Um perigoso chefão, cuja organização tem tentáculos onde menos se espera.

 Curiosidade: cinema em quadrinhos

Sin City ganhou as telas em 2005, em uma bela adaptação cinematográfica que arrancou aplausos de milhões de fãs e do próprio Frank Miller. Fiel aos roteiros originais de Miller e reproduzindo na tela a mesma linguagem das HQs, em especial a utilização de branco e preto com detalhes coloridos (e com belas atuações de gente de peso como Bruce Willis) o filme Sin City foi aclamado como “uma história em quadrinhos na tela do cinema”.

A estética da HQ, bem como a violência das histórias (Sin City, tanto filme como HQ, é recomendado para quem tem estômago forte), estão lá.

Três arcos de histórias que se unem no filme – Cidade do Pecado, A Grande Matança e That Yellow Bastard podem ser encontrados em português em luxuosas graphic novels lançadas no Brasil pela Devir Livraria (cada um dos livros, com 184 páginas originais em preto e branco).

Sin City: A Dama Fatal, que também está no roteiro do filme, já chegou a ser publicado no Brasil pela extinta Pandora Books, em 2003. Aliás, vale lembrar que a mesma Pandora publicou ainda Sin City: A Dama de Vermelho, que traz em suas páginas a historieta “O Cliente Sempre Tem Razão” (usada na abertura do filme).

 

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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