Quadrinhos e desenhos na Segunda Guerra Mundial

A arma-secreta
Americanos usaram quadrinhos e desenhos animados durante a Segunda Guera Mundial para manter a moral elevada e debochar do inimigo

Talvez você acha que já tenha lido – ou ensinado – tudo sobre a Segunda Guerra Mundial. Então, com certeza, você sabe que personagens de histórias em quadrinhos e desenhos animados estiveram entre os primeiros convocados para integrar as fileiras do Tio Sam. Não? Pois saiba que foram – e lutaram muito.
Assim que os Estados Unidos entraram na guerra (em 1941, um ano antes do Brasil), era necessário usar os meios de comunicação de massa para unificar a população, despertar o nacionalismo, levantar o moral e, claro, fazer com que os inimigos parecessem monstros (não que os nazistas não fossem, mas qualquer reforço era bem-vindo…). E que meio melhor do que os quadrinhos e os desenhos, na época em plena ebulição, para fazer isso?
Desta forma, quase todos os super-heróis que existiam na época – entre os quais Batman e Super-Homem –
ganharam de seus autores aventuras nas quais enfrentavam espiões nazistas ou conspirações de alemães, japoneses e italianos. Era necesário, no entanto, criar um herói que representasse à altura todo o patriotismo estadunidense. E assim surgiu em 1941, pelas mãos de Jack Kirby e Joe Simon, o Capitão America. Logo na primeira edição do gibi, o Capitão já aparecica socando a cara de Hitler (acima e no detalhe). Além de levar o país no próprio nome (lembre-se, os estadunidenses fazem questão de se chamarem de “americanos” e usam “America” como sinônimo de USA), o Capitão levava a bandeira em seu uniforme e no escudo – que por sinal, não era redondo como o atual.
A história do “Capitão” também era um exemplo patriótico a ser seguido: Steve Rogers, um soldado franzino que é apaixonado pelo eu país, toma um soro experimental que já havia matado dezenas de voluntários na esperança de poder ajudar o sonho americano de liberdade. O soro funciona e Rogers se transforma em um super-soldado, o forte e hábil Capitão América, que com a ajuda de seu braço-direito Bucky combate Hitler e seu monstruoso pupilo (e futuro sucessor), o Caveira Vermelha. Vale lembrar que o Capitào só não derrotou Hitler porque acabou congelado no mar (o que explica a longevidade do personagem nas HQs) e só foi encontrado décadas depois do final do conflito…

Poder Femino

Também em 1942 fez sua estréia a primeira super-heroína do mundo: a Mulher Maravilha (que por sinal, aqui no Brasil foi chamada de Miss América em suas primeiras aparições). A personagem foi criada pelo psicólogo William Moulton Marston e tinha uma função importante na guerra verdadeira: mostrar para as mulheres que elas eram capazes de cuidar de si mesmas.
Marston, que anteviu a ida dos homens americanos para a Segunda Guerra, acreditava que as mulheres eram mais honestas que os homens e criou uma personagem que levava a mensagem de que as mulheres tinham de entender seu potencial, lutar por direitos iguais e se virarem por si mesmas.
Vinda de um passado mitológico, a princesa Diana – filha da rainha Hipólita e criada em uma ilha de Amazonas – tinha poderes enormes, mas só usava a força em último caso. Tudo era resolvido com a inteligência, astúcia e a utilização de seu lasso mágico, no qual quem fosse amarrado só conseguia falar a verdade.
A Mulher Maravilha também usava (e usa) as cores da bandeira americana (além da águia no “top” e estrelinhas no shortinho) e, na maioria das HQs deste período inicial, combatia o crime e ajudava as mulheres a agirem por si mesmas, sem a ajuda dos homens (que por sinal, estavam na guerra, algo que a princesa amazona e guerreira condenava no “mundo patriarcal”).
Com a volta dos soldados para os EUA, por sinal, as vendas da revista foram reduzidas consideravelmente (na mesma medida em que as mulheres foram recolocadas em “seu lugar”: dentro de casa). As vendas só voltaram a crescer após a morte de Marston. Isso porque os quadrinistas que assumiram a personagem fizeram com que ela passasse a usar os músculos e aderisse à linha “porrada” no lugar da antiga sapiência…

Pato nazista, rato soldado

Os super-heróis não foram os únicos a irem para a Guerra. Os estúdios Disney – cuja música “Quem tem medo do Lobo Mau” (Os três porquinhos) já tinha sido usada pelo governo como slogan do New Deal do governo Roosevelt – foram convocados para fazer propaganda contra os inimigos dos EUA.
Foram feitos documentários e filmes à respeito do conflito, mas isso era pouco. Assim, Mickey e Donald acabaram entrando no combate.
O ratinho foi usado em todo o tipo de material, até mesmo cartazes de guerra como o visto acima, no qual lembra os americanos do ataque japonês a Pearl Harbor e diz que é preciso ficar alerta. “Mickey Mouse” chegou a ser, inclusive, um dos códigos usados pelas tropas americanas no desembarque na Normandia, no “Dia D”.
Já Donald foi transformado em um fanático nazista, um pobre homem simples alemão que sofria lavagem cerebral do nazismo e se tornava um soldado humilhado, obcecado e insano (vale lembrar ainda que o personagem Zé Carioca surgiu nesta época em decorrência justamente da política de boa vizinhança dos EUA em função da guerra).
Vale lembrar que os alemães (e os italianos) não gostaram nada do engajamento dos personagens. Hitler, que por sinal bania os gibis de O Príncipe Valente das cidades que conquistava, mandou seu ministro das comunicações, Herr Goebbels, preparar um duro discurso atacando os personagens Disney, em especial Donald. Já o duce italiano, Benito Mussolini, proibiu a venda dos gibis norte-americanos na Itália.
Os aliados, como se sabe, ganharam a guerra e os personagen voltaram a “ser civis”. Mas demonstraram ser ótimos soldados. E, com certeza, o governo não teria dúvidas em convocá-los de novo se preciso…

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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