Divertido, rabugento e às vezes muito azarado, Donald – assim como a argentina Mafalda – foi criado antes de ter nascido oficialmente. Os estúdios Disney queriam um personagem baseado em um pato e, em 1932, foram elaborados os primeiros desenhos de um patinho mais infantilizado e fofinho, em preto e branco. Porém foi só em 1934, com um bico longo e vestindo roupa de marinheiro, que o personagem estreou oficialmente no desenho animado A Galinha Sábia (The Wise Little Hen), uma história baseada em uma fábula de Esopo, que no Brasil também foi chamada de A Galinha Esperta.
O pato chamou a atenção do público e, por isso, foi incluído pouco tempo depois – ainda em 1934 – no desenho Benefício aos Órfãos, no qual tem a primeira explosão de raiva, que se tornaria uma marca característica. Pouco depois, em 1935, já aparecia de novo ao lado de Mickey e companhia em novo curta-metragem: The Band Concert.
O astro principal deste desenho era Mickey, e Donald, mais uma vez, um personagem secundário. E, mais uma vez, o pato roubou a cena. A partir daí, tornou-se um hit nos desenhos animados, aparecendo inicialmente nas histórias de Mickey, de quem aos poucos ia roubando a cena.
Nas HQs, a versão quadrinizada de A Galinha Sábia foi lançada no mesmo ano do desenho animado, 1934, em 16 de setembro. Além dessa história, a Disney publicava (desde 1929) uma série de tiras de quadrinhos chamada A Silly Symphony (por sinal esse também era o nome dado a série que abrangia os desenhos animados do qual A Galinha Sábia). Em 30 de agosto de 1936, a popularidade de Donald “roubou” a tira, que passou a se chamar A Silly Symphony Featuring Donald Duck.
Um ano depois, em 1937, o pato ganharia as próprias tiras de jornal, pelas mãos do renomado quadrinista Al Talafiero. Foi ele que trocou o bico do pato em definitivo, abandonando a versão mais longo (que ocupava muito espaço em cada quadrinho) e colocando o bico que permaneceu até hoje no pato.
Pouco depois, o pato ganhou uma namorada, Margarida, e em 17 de outubro de 1937 surgiriam os sobrinhos, Huguinho, Zezinho e Luizinho. A popularidade de Donald foi crescendo cada vez mais e ele começou a desbancar de vez o pioneiro Mickey Mouse.
As histórias de Donald ganharam mais força graças ao quadrinista Carl Barks, responsável pelas melhores HQs do personagem e “pai” de Tio Patinhas, Maga Patalójika e quase metade de Patópolis, cidade que também é criação de Barks. O estilo do quadrinista, que morreu em agosto de 2000, é até hoje imitado por muitos desenhistas Disney no mundo inteiro, além de continuar a ser admirado globalmente.
Além do traço que incluía painéis grandes em aventuras épicas, Barks achava que o berreiro de Donald (que originalmente foi dublado por mais de 50 anos por Clarence Nash e no Brasil tem a voz de Cláudio Galvan) era funcional apenas nos desenhos animados. Por isso nas HQs dele o pato ganhou mais profundidade. Continuou a ser explosivo, mas com personalidade mais ampla e histórias maravilhosas.
São de Barks as famosas HQs que Donald se envolve nas mais diversas profissões em busca de sucesso (que alcança, mas invariavelmente perde ao meter os pés pelas mãos) e as grandes odisseias ao lado de Tio Patinhas, Huguinho, Zezinho e Luizinho. Barks também criou antagonistas épicos de Donald, como o vizinho Silva e o irritantemente sortudo Gastão.
No Brasil, Donald estreou em 1950 e, desde então, é um dos mais populares personagens Disney. Muita gente analisa o sucesso do personagem por ele ser (ironicamente, se tratando de um pato) “mais humano” que os demais personagens Disney, pois constantemente erra, tem explosões de raiva, é vítima do azar etc.
O professor e quadrinista Álvaro de Moya, que fez capas para os gibis Mickey e O Pato Donald lançadas pela Editora Abril no Brasil, costumava dizer que enquanto o camundongo conseguia o sucesso com menor esforço, Donald precisava se desdobrar e muitas vezes sequer alcançava o objetivo. “É como se o Mickey fosse o Superman, cheio de poderes, e o Donald fosse o Batman, um ser humano que precisava se esforçar muito mais, se machucava, para prender os vilões” , comparava Moya, que faleceu em 2017.
Enredo
O Pato Donald é um jovem pato solteirão, morador da cidade de Patópolis. Entre as “qualidades” deste herói cotidiano destacam-se a preguiça, o gênio terrível, um azar quase que interminável e um tremendo faro para a encrenca.
Sempre vestido de marinheiro, o pato tem várias profissões (até porque invariavelmente acaba sendo despedido) e, em geral, quando se dedica a qualquer uma delas é um profissional exímio a princípio, mas sempre acaba arranjando confusão. O principal ofício de Donald, no entanto, é resolver problemas e se aventurar em missões complicadas para o tio rico, Patinhas (geralmente em troca do aluguel ou de parcos trocados).
Donald também tem um alter-ego justiceiro, o Superpato (Paperinik). A versão heroica foi criada em 1969 na Itália (e tem o nome original inspirado por um herói dos quadrinhos italianos, Diabolik).
Os desenhistas Disney locais perceberam que as revistas de Donald estavam caindo em vendas e apuraram que a razão era um desânimo dos leitores pelas histórias da época, nas quais Donald quase sempre se dava mal.
Criaram então uma identidade secreta por meio da qual o pato protegia secretamente Patópolis e salvava o dia. A ideia deu tão certo que foi absorvida mundialmente pelos quadrinhos Disney.
Personagens
A família pato é extensa e ajuda a enlouquecer o já nervoso Donald. Destacam-se, entre outros, o rico e pão-duro Tio Patinhas; os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho (que moram com o tio e tanto o colocam quanto o tiram das maiores enrascadas); a eterna namorada Margarida (com quem ele chegou a se casar em uma história produzida no Brasil); o primo sortudo Gastão; o primo tresloucado Peninha e o sobrinho pior ainda dele, Biquinho; a vovó Donalda e o empregado dela, Gansolino; o professor Pardal e as sobrinhas de Margarida, Lalá, Lelé e Lili, além dos vilões irmãos Metralha.
Curiosidade: os misteriosos pais do pato
Parte dos “biógrafos de plantão” e críticos do Pato Donald e do criador Walt Disney costuma ironizar o fato de que Donald “nasceu de chocadeira”, ou seja, não teria pai nem mãe.
Na verdade, porém, o pato tem pai, mãe e até avô (na ilustração nesta página, carregando o netinho para o quarto na fazenda da Vovó Donalda).
O cartunista Carl Barks já havia criado os pais de Donald, Quackmore Duck (no Brasil, Pato Patoso) e Hortense McDuck nos anos de 1950. Os dois apareciam em uma memória de Donald, dançando.
Porém foi o quadrinista Keno Don Rosa, considerado sucessor de Barks, quem consolidou a árvore genealógica em A Saga do Tio Patinhas, que escreveu e desenhou entre os anos de 1992 e 1994, utilizando como base os arquivos de Carl Barks.
Na série de Rosa, o autor mostra que Donald e a irmã gêmea, Dumbella (algo como “bobona”), nasceram de um tempestuoso romance entre Hortense McDuck (irmã de Tio Patinhas) e Quackmore Duck (filho da Vovó Donalda).
Em uma das HQs, o marido de Donalda, vovô Dabney Duck (esse mesmo que aparece na ilustração desta página e que no Brasil foi chamado de “Tomás Reco”) comenta com a esposa: “estes dois são muito desmiolados: não imagino que tipo de filho nascerá deste casal”.
Nas ilustrações abaixo, é possível ver Hortense apresentando o marido e os filhos a Patinhas e, na sequência, Hortense e Patinhas brigando, sob os olhares preocupados da outra irmã de ambos, Matilda, de Quackmore/Patoso e dos pequenos Donald e Dumbella.
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