Kill Bambi

Mundo HQ

Imagine a “Noiva”, de Kill Bill, com cabelo pink, sérias limitações mentais,nenhum tipo de moral e ainda mais mortal do que a personagem interpretada por Uma Thurman.  Não é difícil adivinhar que o resultado seria um banho de sangue. Acrescente a isso um tempero bem mais nonsense que qualquer filme de Tarantino e o resultado será Bambi, mangá de Atsushi Kaneko publicado no Brasil pela Conrad Editora que, com certeza, não tem absolutamente nada a ver com o veado galhado da Disney.

A história começa a ser contada em ordem não-cronológica, de modo que o leitor é apresentado a Bambi quando ela entra armada em uma loja de conveniências puxando um garotinho pela mão, e logo descobre que a menina seqüestrou o garoto e que há uma recompensa de 500 milhões de ienes pelo menino, desde que ileso, oferecida por um suposto pai.
Mas rapidamente, entre muito sangue e vísceras, a história ganha outros contornos. Contornos bem surreais, diga-se de passagem. Bambi na verdade é uma assassina treinada por um misterioso grupo chamado de “Os Velhos” porque são, bem, velhos… mas, assim como a garota, extremamente perigosos. Por ordem deles, ela retirou o menino de um local onde era mantido por inúmeros pistoleiros de aluguel. Nenhum deles foi páreo para a guria.
O suposto pai é na verdade Gabba King, uma espécie de músico que lembra um Elvis Presley uns 300 quilos mais gordo e que se mantém jovem por meio de estranhos rituais, que incluem matar as próprias fãs. O “rei” tem como associado um ninja gay com cabelos a La Drácula, chamado Charlie, e, quando vê que a maioria dos assassinos do país sequer consegue arranhar Bambi, contrata ainda um perigoso trio de assassinas.
Elas são as trigêmeas Roach girl, Fly girl e Mouse girl, belas psicopatas que misturam altas doses de sadismo e masoquismo a suas atividades, e que odeiam a si mesmas mais do que tudo.
 Ou quase tudo. Não bastasse tudo isso surgem mais duas figuras estranhas: o “ namorado” de Bambi, na verdade um jovem caçador de recompensas que de alguma forma se vê seduzido pela garota, depois dela quase o matar repetidas vezes, e Platina Mask, um ex-lutador desfigurado que aparentemente tem uma relação afetuosa com Bambi da época em que ela era uma criancinha.
Em meio a toda essa confusão cruenta, Bambi desenvolve afeição pelo menino, que parece ser tão tapado quanto ela – enquanto a maluca pára tudo o que está fazendo para assistir a um programa de TV chamado “ursinho Peh” (e mata todos que tentarem impedir), o menino ignora tudo à sua volta e até dorme durante tiroteios.
Talvez por isso Bambi – que só fala de si mesma na terceira pessoa – se veja refletida no moleque e adote seu seqüestrado, que de “garoto de m…” passa a ser chamado de (argh!) Pampi e passa a ser tratado por ela como uma mistura de bichinho de pelúcia e animal de estimação.
O autor Atsushi Kaneko se diz influenciado pelos quadrinhos underground americano e, acredita, o universo de ultraviolência de seu mangá deve agradar em cheio os fãs de quadrinhos adultos e de filmes como Sin City e Laranja Mecânica. É ver para crer, até porque os filmes citados têm conteúdo e coerência, além da violência em si. Já Bambi assassina qualquer conteúdo lógico logo nas primeiras páginas. Com muito sangue, claro. Para quem gosta do gênero, é um prato cheio.
Vale ressaltar que os desenhos de Kaneko são muito bem executados e uma atração a parte, ressaltada pela opção da Conrad de imprimir trechos do mangá em cores diferentes – em vez do tradicional preto e branco, há laranja e branco, azul e branco, pink e branco e assim por diante.
Cada exemplar da série (ao todo são seis) tem cerca de 200 páginas e pode ser adquirido por R$ 22,00, mas o site da Conrad constantemente faz boas promoções, por isso se você tem interesse no quadrinho vale a pena dar uma olhada por lá antes de fechar negócio.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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